14 setembro, 2011

era isto. o tempo parou,eu percebi. desenhou os nossos reflexos que apesar de desfocados,eram tão reais. mostrou-nos as sombras da verdade, mas só as sombras. a luz fazia-nos bem. entrava-nos para dentro do coração e coloríamos as paredes,as folhas, os lagos em que espreitávamos. tudo nos envolvia como se quisessem que fizéssemos parte da paisagem para sempre. eu sentia um aperto a volta dos ombros e do sorriso. e como sempre, não saí desiludida. de há uns tempos para cá,tinha-me lembrado de dar vida a casa. sentia saudades dela,do chão a cheirar a madeira, dos ramos das árvores a espreitarem por entre a abertura das janelas,do cheiro de todas as estações num só local. a casa sempre foi um poço de entradas e saídas, de diferentes almas e diferentes vidas. sempre foi uma porta aberta. e hoje, é a porta aberta de recordações. como tal,decidi tirar todas os objectos e decorações que transpirassem dias maus. decidi entrar no jogo e durante aquele dia inteiro de remodelações, fui-me colorindo. no fim, tirei uma só fotografia e oh,como era tudo tão diferente. decidi emoldurá-la e levá-la comigo. depois disso,sentia finalmente que tinha encontrado o refugio. aquele que desde pequena dizia ter. estava ali e era meu. era só abrir a porta da frente e tudo estava bem. sentia-me nela mais do que em qualquer outro lugar,aquilo era eu,de todas as maneiras. e é tão bom quando temos algo a condizer connosco e que se encaixa tão bem. não me esqueci de nós e não me esqueci de te levar lá. tal como aquele sítio,também fazias e fazes parte de mim. sabia que se iam dar bem. sabia que te ia suavizar o coração que andava acelerado. estava ansiosa para que pisasses o chão da entrada e para que finalmente se virasse a folha das nossas vidas. em ti,começavam os dias mais coloridos e as almas mais alegres. prometi a mim mesma que a remodelação ia ser radical e por isso,só permitia que pairasse no ar energia positiva. estava ansiosa para que cheirasses a noite. era tão diferente. era tão mais fresca,tão cheia de estrelas. coloquei uma cama de rede no terraço. e ainda me lembro que quando olhei para ela depois de a montar,sorri tanto. podia ser ali as noites infinitas, as conversas eternas,o lugar de todos. até o chá soube ao amor. e eu que sempre bebi o chá por hábito. porque sim. colhi umas flores do jardim e coloquei-as na jarra. eram margaridas. estava tudo pronto para que quando voltasse,voltasse contigo. e assim foi. durante a viagem lembrei-me de pôr o cd que tinha gravado com as musicas do John Mayer. gostamos muito,os dois. entra-nos nos ouvidos e ficamos a cantar o dia todo,em sintonia. estavas feliz mas receoso. eu percebi. não gostas de estar muito tempo fora de casa e tinhas medo de te desiludir. pus as expectativas altas mas quando as faço,sei que são certas. chegámos ao fim da tarde, porque eu quis. quis que te estreasses com o pôr do sol. os teus olhos brilharam e agarraste-me com força a volta da cintura. não se ouvia nada,só o som do rio e das árvores a mexer com o vento. foi bonito,foi como só podia ser. o resto dos dias ficam connosco, bem aconchegados nas nossas mãos. foram intensos e calmos. intensos de renovação,só isso. e tive a certeza absoluta que a casa já era a nossa casa e que já tinhas as tuas mãos marcadas nas paredes. a cama de rede foi estreada por ti e abusada por ti. passavas lá os serões a beber café e a ouvir os grilos. eu cá dentro,junto a varanda a ler o livro e a olhar para ti de vez a vez. a tentar adivinhar os teus pensamentos. estavas longe,tão longe e tão perto. no fim disseste-me que adoravas casas ao pé dos rios e que só agora te tinhas lembrado de me dizer. achei graça porque mais uma vez,estávamos por igual. adoravas o cheiro a puro,a serenidade como se o resto lá fora nunca importasse demasiado. fomos só os nós os dois,eu e tu. agradeceste-me por fazer parte da tua vida e por mudá-la com simples coisas. a tal verdade que nos foi oferecida foi nada mais,nada menos do que saber relaxar. temos um mundo dentro de nós e é nele que temos que nos focar. usá-lo da maneira certa. e nós juntos,só juntos,somos a maneira certa. fizeste-me a promessa que quando voltássemos ias arranjar o jardim. era o teu presente para mim. o importante era que vinhas,que voltavas. sem eu dizer nada,só por ti. mal ia a fechar a porta de saída perguntei-te: "sentiste o mesmo que eu,não foi?" respiras-te fundo e disseste "aqui tens a tua resposta". gosto de ti. cada vez mais,cada vez melhor. 

12 comentários:

Anónimo disse...

que ternura *

carina disse...

opá... LINDO!

Anónimo disse...

porque escreves tão bem?

claire disse...

oh joana estou sem palavras

ines disse...

Foi como se lesse um livro, dos de boa qualidade, dos verdadeiros, dos lindos. Dos de amor. Dos perfeitos

Rita Q. disse...

"gosto de ti. cada vez mais, cada vez melhor." - adoro!

mary disse...

oh joana, adoro tudo isto -oh o quanto adoro!

Emmeline disse...

isso foi meeeeeeeeesmo um beijo na minha alma

inês disse...

que bom que é saber isso, joaninha

Rita Q. disse...

gostei tanto de ler o teu comentário, tens toda a razão :')

Joana disse...

a última frase. lindo! simplesmente, lindo.


Aproveito para dizer que mudei de "casa"...
www.theworldseenonhighheels.blogspot.com
Beijinho!

ines disse...

Oh joaninha, e recebia esse beijinho e apertos com todo o gosto