22 agosto, 2010

"É mais fácil amar alguém que é parecido connosco? Acredito que sim. Sejam parecenças a nível físico ou nas atitudes, valores e traços de personalidade, o factor espelho funciona ao mesmo tempo como um catalisador e uma fronteira dentro da qual gostamos de nos ver. Faz sentido. E também faz sentido que o amor opere numa base egoísta e narcísica, pelo menos no início de uma história amorosa, quando andamos à procura de alguém como nós, que nos entenda quando nos ouve, que nos ajude a querer ser melhores, que nos ponha num pedestal de dois lugares com amplas vistas para um futuro no qual tudo é possível.

Depois vem a parte mais difícil. A pose vai-se desfazendo com o tempo, ao mesmo ritmo que a convivência transforma em serotonina e em conforto o que antes foi risco e adrenalina. E então reparamos que o outro afinal tem um bocadinho de barriga, que ressona, que deixa sempre as meias no chão, que se esquece de fazer um favor que lhe pedimos, que nem todos os dias olha para nós com paixão. É quando começamos a ver o outro como ele era antes de o conhecermos, uma pessoa, autónoma, separada de nós. Em boa verdade sempre o foi, mas na fase do enamoramento entrámos no delírio da fusão e toda a gente sabe que a paixão é a mais dura das drogas e, consequentemente, a que nos rouba da realidade com mais eficácia. Parece que o LSD provoca alucinações maravilhosas, mas a droga do amor também já me pôs a viajar pela galáxia com asas brancas algumas vezes, via láctea incluída, por isso aprendi a ter algum cuidado de cada vez que me apetece levantar voo e dar a volta ao Universo qual ser alado e alienado da terra que piso.

No entanto, o que nos fez aproximarmo-nos daquela pessoa e apaixonarmo-nos por ela prevalece. São as tais afinidades que nos fizeram sentir em casa desde o início; o interesse pelas mesma artes, o amor aos mesmos livros, o mesmo gosto musical, ou episódios tão pueris como os dois terem tido muitas otites quando eram crianças. Também pode ser apenas a cor dos olhos, o tamanho das mãos, o léxico comum, o mesmo sentido de humor. Eu seria incapaz de me apaixonar por um homem que dissesse «mamã» e desse «a papinha com chichinha à bebé». Ou que usasse a expressão ‘o comer’ em vez de almoço. Ou que gostasse de passar férias na Cova do Vapor. Ou que ouvisse Leandro e Leonardo. Ou que não gostasse de Monty Phyton. Ou que usasse brincos pretos e bonés de pala virados ao contrário. Qualquer destes pequenos nadas seriam um turn off, como se o reflexo que tanto desejo de repente se transformasse num daqueles espelhos da feira popular onde nos vemos disformes, ridículos e grotescos.
A alegoria do espelho no Harry Potter é sábia e maravilhosa, porque o espelho nos mostra o que queremos ver. Da mesma forma que é apenas normal virarmos a cara e as costas a imagens destorcidas de nós próprios e dos outros. Nesse caso, mais vale escolher com critério e ser rigoroso, não vá o Diabo tecê-las e, num momento de maior paixão, saltar uma nota dissonante a estragar o idílio."


FIQUEI PARVA, com esta crónica da Margarida Rebelo Pinto, boquiaberta!

8 comentários:

RuteRita disse...

É mesmo querida !
Os coldplay são, sempre os coldplay

Luna disse...

obrigada :)
é engraçado que tinha a música e nunca tinha ouvido,
:p

Luna disse...

não é para menos
para ficares boquiaberta,
eu também fiquei.
olha ela disse tudo.
adorei.

Luna disse...

eu tenho as músicas todas dele,
eram tantas que não cheguei a ouvir todas..

li a sobre os homens.

RuteRita disse...

São muito bons.

sara disse...

Concordo contigo, tudo o que vem dela é de uma verdade tão pura!

• cláudiagomes disse...

Margarida Revelo Pinto, é... Perfeita.
E eu amei o teu Blog *.*

• cláudiagomes disse...

Aquela foi encontrada abandonada :/
as pessoas são mesmo bestas -.-
Obrigada minha linda *.*
Beijinho :b