cartas.

Deixaste de me escrever. deixaste de acreditar que eu te lia. deixaste de acreditar no que escrevias e deixaste de querer sentir o que sentias. não percebo como um dia te mudou,não percebo como um dia foi tudo de nada para mim. num estalar de dedos já tudo tinha desaparecido,deixaste de segurar aquilo que ainda nos mantinha presos ao passado. o nosso passado,acredito eu. recordavas sempre em poucas passagens aquilo que eu tinha sumido. e sabia bem,sabia sempre bem saber que tu as sabias de cor e fazias questão que eu nunca esquecesse. mas,mas de um momento para o outro,passaste a desejar o contrário. e eu que acreditava que nunca foste a minha maior lembrança. Agora,és tu e mais estas tuas cartas que eu empilhava todos os dias quando me ia deitar. faz-me falta ouvir-te,faz-me falta saber que existes, faz-me falta  recordar contigo. no fundo,só estava a espera que esgotasses todas as tuas lembranças,para te poder escrever as minhas. eram poucas,eram as melhores. as melhores que eu soube guardar e que tu nunca as saberás. tudo porque deixaste de me escrever,deixaste de acreditar. pensava que acreditarias sempre,pensava que estarias lá sempre,disponível e pronto a esquecer por momentos que já não somos nós. e pensava ainda,que não eras como o tempo. curto e passageiro. mas mesmo depois de já cá não estares,continuaste a ser igual a ele. eu,não vivo este presente,e se vivo,é com a esperança de acabar de empilhar este monte de cartas,só por mais um dia. o ultimo dia. relembra-te de mim pois eu nunca soube não fazê-lo.